Digitalizar a luta contra a malária na Guiné-Bissau.

19 de June de 2019

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Em 2017, apesar de ser prevenível e tratável, a malária ameaçou cerca de metade da população mundial. A Africa continua a concentrar cerca de 90% de todos os casos de doença e óbitos por malaria. Na Guiné-Bissau, onde a malária é a causa principal de óbitos nas grávidas e crianças menores de 5 anos, uma iniciativa baseada na tecnología tem transformando as intervenções contra esta doença, reforçando assim o sistema de saúde nacional e salvando vidas.

Um processo fiável

“Costumavamos escrever à mão num formulário todos os dados recolhidos nos centros de saúde e de seguida enviar os formulários por transporte público ao Instituto Nacional de Saúde para verificação e análise”, explicou Herculano Bras da Silva, Responsável da Área Sanitária encarregado de recolher os dados da malária no Setor de Cossé, região de Bafatá.

“Levava 2 a 3 semanas entre a recolha de dados a nível local e a sua análise” realçou Herculano.

Em vários países africanos, o acesso limitado aos aplicativos móveis ou WIFI, associado às péssimas condições das estradas e as longas distâncias entre as comunidades para recolher informação, dificultam imenso o processo de reportagem. 

No entanto, sem dados de qualidade e rápidamente recolhidos, é impossivel identificar as localidades onde surgem os surtos da malária. Esta situação tem graves consequências na tomada de decisão sobre as localidades a privilegiar para as campanhas de prevenção e/ou tratamento da malária e a alocação de recursos para para o seu efeito.

Uma nova iniciativa, baseada na tecnologia móvel, pretende mudar esta realidade. A parceria entre o PNUD, o Fundo Global de luta contra SIDA, Tuberculose e Malária, o Governo e o Banco Mundial, permitiu a introdução do um sistema de monitorização em tempo real, usando tablets para digitalizar os dados da malária produzidos em 136 centros de saúde, com a ambição de cobrir a totalidade dos 169 centros de saúde do país até 2020.

O uso desta tecnologia tem reforçado a capacidade do governo no mapeamento, seguimento, prevenção e tratamento dos surtos da malária em tempo real. Assim, 223 pessoas, inclusive aquelas que trabalham nos centros de saúde e os gestores de dados nos hospitais, foram formadas no uso dessa tecnología lançada em 2018, em 45 centros de saúde e 1936 comunidades em 2018.

“Agora os dados são recolhidos nos centros de saúde diretamente com os tablets e automaticamente enviados ao Instituto Nacional de Saúde” afirmou Herculano.

“Esta tecnologia nos permitiu ganhar tempo considerável na análise de dados e na alerta sobre o surgimento de surtos da malária”.

Dados em tempo real salvam vidas.

O novo sistema de reportagem ja contribuiu para uma redução de 16% do número de óbitos ligados à malária no país entre 2017 e 2018. A recolha de dados foca-se na gestão dos casos e nas medidas de prevenção implementadas, assim como na distribuição das redes mosquiteiras aos grupos vulneráveis tal como as grávidas, as crianças, e a disponibilidade de medicamentos antimaláricos nos centros de saúde. Os dados recolhidos incluem não só a malária mas também outras doenças tal como cólera, pólio, e febre amarela.

Os profissionais de saúde, podem agora identificar imediatamente as localidades que precisam de recursos para a luta contra à malária. Esta tecnologia também pode servir a assegurar que as quantidades necessárias de medicamentos sejam disponíveis.

“Agora conseguimos localizar cada medicamento, a quantidade, a data de expiração assim como o número de referência” explicou Richard Miller, o Gestor Nacional do Armazém do PNUD.

Acesso à assistência médica

A prevalência da malária na Guiné-Bissau é a mais alta na África Ocidental, totalizando 18% dos casos de óbitos registados em todos os centros de saúde, afetando principalemente as crianças menores de 5 anos. Entretanto, 34% dos óbitos por malária na comunidade acontecem nas crianças menores de 15 anos.

Helena vive com os seus 3 filhos em Bafatá. A sua filha de 4 anos, Aminata, contraiu a malária quando tinha apenas 8 meses.

“Quando a levei ao centro de saúde, fizeram-lhe o teste rápido que deu positivo e deram-lhe tratamento gratuito. Depois disso passou a receber o tratamento preventivo gratuito anualmente assim como as redes mosquiteiras e nunca mais voltou a contrair o paludismo”, explicou Helena.

Erradicar a malária até 2030

No quadro das comemorações da edição 2019 do dia Mundial da Malária, a OMS revela que os progressos estagnaram, e em certos países, a malária tem aumentado. A cada dois minutos, uma criança morre desta doença prevenível e tratável. Cada ano, mais de 200 milhões de novos casos são registados.

Com mais de 90% de casos e óbitos por malária registados em África, é essencial conseguir soluções para enfrentar os desafios da luta contra a malária na África e assim atingir as metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis ligadas à erradicação da malária até 2030.